Nelson Moleiro
Tudo começou aqui...

Ora o fulano chega a estas lides que nem um furacão e saca logo de um garrafão de vinho! Porquê o garrafão de vinho? Perguntam vocês e pergunto eu a mim próprio. Mas passo a explicar. Para mim tem toda uma lógica, porque toda a minha relação com vinho inicia aqui. É neste ambiente tasqueiro relacionado com o vinho, no seio de tascas pitorescas e saudosas de Mira de Aire, onde cresci, que surgem as primeiras vivências e experiências nesta matéria.
Surgiu-me esta imagem, como poderia ter sido uma tradicional "cagueta" de tinto, ou outra qualquer particularidade de uma taberna típica. Tudo isto me remete às memórias mais distantes de infância. Digamos que foi um início de relação difícil, porque aquele culto de bebida tão deslavada, de cheiro azedo, não me cativava. Mas como puto duro, fazia frente os homens com uma gasosa Rical lá bem no alto. Ora em tempos de infância, nestes altares de tradições, Zé da Quintinha, Mestre e Adega do Parente, concluí que aquilo não era para mim e enterrei o vinho sob uma cruz.
Passou-se a vida de estudante, e vinho nada (salvem-se os jantares estudantis! Mas aquilo era vinho?!). É quando do início da minha actividade profissional, impulsionado por jantares de trabalho e convívios entre amigos, que a pouco e pouco começa a crescer a paixão pelo vinho. Obviamente é no contacto com produtos de boa qualidade, de excelência, que surge a paixão pessoal por este novo mundo, descobrir mais vinhos! "Porque não gosto deste e gosto mais daquele? Ainda um dia destes bebi este vinho e sabia tão bem, e agora não parece o mesmo. Será que está à temperatura certa, ou não estou a acompanhar com o prato ideal?" Tudo isto hoje surge menos turvo em mim, e é com leituras, experimentações, visitas, provas, etc, que as opiniões se tornam mais racionais e consistentes. Hoje concentro-me mais em alguns defeitos dos vinhos e menos nas qualidades, porque as qualidades todos melhor ou pior conseguimos identificar. Quando é um grande vinho é unânime. É nos pequenos ou grandes defeitos que separamos e elegemos os nossos vinhos.
Posto isto, de futuro e periodicamente, irei publicar sobre todos estes temas, numa tertúlia e debate de opiniões, conselhos e dicas entre todos. Pormenores sobre os vinhos nacionais, crítica e visão pessoal sobre o sistema de prémios de vinhos, marketing, compra e venda nos grandes mercados, não faltarão temas para abordar. Ideias também não faltam, agora é caminhar. No final quem sabe, talvez conseguirei a tarefa difícil de convencer alguns familiares (todos terão certamente algum que se inclui no perfil), seguidores da doutrina do vinho a garrafão e hoje convertido à moderna box, a não olharem para uma garrafa de vinho como um verdadeiro anti-cristo. Interessa é um vinho com corpo e não um corpo com vinho! "Lá estão estes putos com as manias, deixá-os falar"...