Nelson Moleiro
"Tanto ando de Veleiro, como caio uma parede!"

Mês de Agosto, mês forte de férias em Portugal. E já que estamos em tempo de férias, nada melhor que falar delas. Este título, "tanto ando de veleiro como, caio uma parede", fala de mim, retrata a minha pessoa, e um pouco do que sou. Tanto estou no local mais requintado, como a seguir passo para a taberna ou tasco mais pitoresco, humilde, tradicional e típico. Sou uma pessoa que preza valores tradicionais, valorizo a humildade, e de quem dela faz bandeira de vida. Uma pessoa deve saber estar e apreciar vivências mais simples, da mesma forma que noutras ocasiões convive no seio do requinte e luxo. Existem aspectos positivos em todos esses momentos, e a mais valia é a adaptação e integração a todos eles. E então o que vamos falar hoje? Mais uma escapadinha de Enoturismo.
Comecei nesta actividade já há alguns anos, quando nem sequer imaginava lançar-me num blog, e desde então nunca mais parei, fascina-me imenso. Além da componente turística, descanso e relaxamento, obtém-se contacto directo e único com os vinhos e toda a actividade inerente à sua produção, enriquecendo e aumentando desta forma o conhecimento e a descoberta.
Este ano, em Abril, escolhi ir para a região de Grândola, e instalei-me uma semana na Serenada Enoturismo.
A Serenada
É um espaço recente, um conceito novo e cativante naquelas bandas, inserido numa zona vitinícola ainda um pouco desconhecida para mim, muito perto do pólo dos vinhos da Península de Setúbal, e de belas praias Alentejanas (Melides, Carvalhal, Pego, Comporta, Tróia, São Torpes, etc). A juntar, a boa gastronomia da Costa Vicentina e locais maravilhosos para visitar, como o Porto Palafítico na Carrasqueira.
Vou então falar da minha experiência, tanto da estadia na Quinta, como também do contacto com alguns dos seus vinhos. Para saberem toda a história desta propriedade, onde se faz vinho de qualidade e acolhem hóspedes, visitem o seu site, A Serenada.
Quem aqui ficar, seja por uma noite, ou por uns bons pares de dias, vai sentir-se literalmente em casa. É um complexo composto por 4 quartos e 2 suites, equipados com todas as comodidades, com decoração cuidada e criteriosa, dando evidência a materiais e pormenores regionais. Contudo, na minha opinião, é nas zonas comuns e toda envolvência da casa que reside o aspecto mais positivo e diferenciador. Temos sala de refeições, biblioteca, piscina, terraços, tudo para usarmos durante o dia e durante a noite, numa ideologia intimista e familiar, daquela filosofia de o último fecha a porta. A recepção encerra às 23 horas, mas os hóspedes poderão permanecer na sala, na biblioteca, aproveitando o aconchego do recuperador, lendo um livro, conversando, bebendo uma garrafa de vinho, ou simplesmente relaxando. Os pequenos-almoços são verdadeiramente caseiros, destaco a qualidade dos queques, croissants, e iogurtes com compotas de frutos. Como não possui restaurante permanente, realizam jantares mediante marcação prévia, com ementa combinada, e por valor fixo (19€/pessoa). Dos pratos que provei, é impossível não referir as bochechas de porco em vinho tinto, um verdadeiro pitéu da nossa gastronomia tradicional, e no caso, regional e local.
Na propriedade é possível fazer piqueniques, BTT, caminhadas ou corridas por entre vinhas, oliveiras e sobreiros, e com sorte, na companhia do cão Max, residente e "porteiro" da Serenada. As actividades de Enoturismo estão sujeitas a marcação e mediante disponibilidade, com prova de vinhos e workshops (prova e visita à adega e vinhas na presença do enólogo). Durante a minha estadia, não houve oportunidade de realizar esse mesmo workshop. Os vinhos são comercializados com o nome Serras de Grândola, provêem de uma vinha nova de 2008, e uma vinha cinquentenária, plantada em 1961. A propriedade, e consequentemente as vinhas, situam-se a 10 km da costa alentejana, e as brisas frescas nocturnas proporcionam a frescura inspiradora para a adequada maturação das uvas. Os solos são muito pobres em matéria orgânica, mas muito mineralizados, com ferro e xisto principalmente.







A Serenada Enoturismo - RIC 1265 - Outeiro André - Sobreiras Altas - 7570-345 Grândola
Os Vinhos Serras de Grândola
Esta pequena propriedade familiar detém de uma variedade grande de castas nas suas vinhas, umas mais regionais, outras de todo o Portugal, outras "importadas".
Castas Tintas
Aragonês
Baga
Bastardo
Camarate
Carignan
Castelão
Ramisco
Touriga Nacional
Castas Brancas
Arinto
Bical
Fernão Pires
Gouveio
Malvasia Fina
Rabo de Ovelha
Trincadeira das Pratas
Verdelho
Viognier
Contactei com 7 vinhos, que são vendidos localmente ou em algumas garrafeiras.
- Serras de Grândola Tinto (Touriga Nacional, Castelão, Aragonês)
- Serras de Grândola Touriga Nacional (monovarietal)
- Serras de Grândola Branco (Gouveio, Arinto)
- Serras de Grândola Verdelho (monovarietal)
- Serras de Grândola Rosé (Castelão, Touriga Nacional, Aragonês)
- Serras de Grândola Cepas Cinquentenárias Tinto (Baga, Camarate, Castelão, Bastardo - este da vinha cinquentenária)
- Serras de Grândola Cepas Cinquentenárias Branco (Fernão Pires, Arinto, Rabo de Ovelha, Trincadeira das Pratas, Bical, Malvasia Fina - esta da vinha cinquentenária)
As minhas preferências e destaques, pela diferença e qualidade demonstradas, vão para os Cepas Cinquentenárias e o Verdelho. Todos os vinhos provei a copo, à excepção do Cepas Cinquentenárias Tinto, o qual abri e consumi várias garrafas durante a estadia.
Serras de Grândola Cepas Cinquentenárias Tinto
Frutado, de carácter muito aromático a frutos vermelhos, na boca muito sedoso e elegante, muito macio, mas a mostrar muita complexidade das castas. Final longo e intenso. Melhor vinho para mim!

Serras de Grândola Cepas Cinquentenárias Branco
Com pouco aroma, mas na boca com uma envolvência magnífica, com muitas notas de sabores de frutos e madeiras, com final longo.

Serras de Grândola Verdelho
Frutado no aroma, na boca muito mineral e intenso, com sabores a frutos tropicais variados. Surpreendeu porque não tinha grande conhecimento de um Verdelho monocasta.

O que fazer por ali?
Nada melhor que percorrer a Costa Alentejana, desde Tróia a Sines, com praias únicas e magníficas. O Estuário do Sado merece visita, e o seu Porto Palafítico na Carrasqueira, terra de pescadores e mariscadores. Para quem gosta mais de interioridade, vilas típicas alentejanas como Grândola e Alcácer-do-Sal, com todo o seu património histórico e cultural, e com mercados típicos em alguns sábados de cada mês. Perto das Sobreiras Altas, onde se situa a Serenada, em matéria de vinhos, podemos visitar em Brejinho d'Água, a Quinta do Brejinho da Costa, e alargar assim o nosso conhecimento nestes vinhos regionais atlânticos. Façam como eu, visitem, vão à wineshop e tragam alguns souvenirs para casa, a preços muito bons. Visitar a Quinta do Brejinho, é conhecer uma Quinta diferente e invulgar, tal como são os seus vinhos, num terroir que conjuga longas praias e zonas arenosas, chamadas de "brejinhas", com a mancha florestal de pinheiro manso. São, os auto-proclamados vinhos atlânticos, nascidos à beira-mar.






Onde comer?
Dos locais onde comi, vou falar dos que se destacaram, cada um com o seu aspecto positivo.
Restaurante "O Folha" na Comporta. Aqui vais a um Snack-Bar com esplanada, para comer um óptimo Choco Frito, com uma polme crocante deliciosa. Esquece o mau atendimento e o cenário, vens aqui para comer um excelente choco frito em dose XL e a preço arrebatador de 11 Euros.

Restaurante a "Escola". Situado entre a Comporta e Alcácer do Sal, ocupa o espaço de uma antiga Escola Primária, recuperada para dar lugar a um restaurante único, em termos de ambiente, espaço e gastronomia. Produtos tradicionais e regionais, confeccionados de uma forma inovadora e diferente. Ementa com muita escolha, com variadíssimos pratos de peixe e carne, pratos de caça, e uma garrafeira de nos perdermos. Um espectáculo! Fui jantar em dia de semana, dizem ser o melhor para evitar as enchentes de sábado e domingo. Os pratos que escolhemos, mediante sugestão da colaboradora, Pombo Bravo de Nabiçada e Empada de Coelho Bravo. É tudo tão delicioso, tão diferente do que habitualmente contactamos, difícil de transmitir em palavras, que o melhor mesmo é fazerem uma visita a este restaurante, local de paragem obrigatória por aquelas bandas.



Restaurante-Marisqueira "Cais da Estação". Fica em Sines, e ocupa o espaço do antigo armazém da Estação de Comboios, convertido hoje em Restaurante-Marisqueira. Tem uma atmosfera envolvente e encantadora, decorado com o requinte e lucidez que um espaço destes deve ter. Possui 2 salas, uma esplanada coberta, e a sala Adega, aliando o bem estar à gastronomia de qualidade. Vários pratos, tanto de carne como de peixe, e lá optei por "javardar" no Arroz de Lingueirão com Choco Frito, premiado como melhor arroz de Portugal na sua categoria. Top quality! Acompanhado com um branco fresquinho, olha, olha!

A melhor dica que dou é simplesmente ir!
Experimentar, desfrutar, viver tudo isto!
Inté!
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