Nelson Moleiro
Sogrape Tinto Garrafeira 1980

A primeira questão que se coloca neste artigo: O que é que um fulano como eu, novato e ignorante nestas andanças, anda a fazer em busca de vinhos envelhecidos? Vinhos esses que já passaram do seu ponto óptimo de consumo, cheios de defeitos e com características organolépticas difíceis de decifrar? A resposta a esta questão, em género de inquietação, é muito fácil, aprendizagem! Sim, quero aprender, e apesar de lermos muito, seguirmos dicas e conselhos, nada melhor que ir pelo nosso próprio pé, com calma e serenidade, segmentar e estruturar a nossa evolução. Vinhos velhos não são vinhos para beber copo atrás de copo, não são daqueles para trazer amigos e abrir garrafas para malta, 9 em 10 dirão que somos doidos e não percebemos patavina de vinhos. Estes vinhos servem para conhecermos os aromas e sabores de um vinho envelhecido, e com isso podemos saber se na nossa garrafeira certos vinhos estão bons para consumo imediato ou se ainda podem envelhecer mais uns anitos.
Hoje em dia a maioria dos vinhos de mesa foram feitos para serem consumidos jovens, salvo algumas excepções, onde vinhos com taninos fortes e elevada acidez permitem um bom envelhecimento e óptimas surpresas uns bons anos mais tarde. Aliás, certos vinhos só atingem o seu grau máximo, uns anos após o seu engarrafamento, daí existirem por vezes injustiças nas críticas precoces a esses mesmos exemplares. De uma variedade de vinhos velhos tintos que tenho adquirido, tenho optado por alguns exemplares da Bairrada e do Dão, décadas de 70, 80 e 90, que pessoalmente acho terem características óptimas para o efeito, mas também pela enorme curiosidade da história dos mesmos. Vinho é cultura.


Qualquer consumidor frequente de vinho tinto, gosta de vinhos com mais "força", onde prevalecem aromas e sabores fortes, onde a fruta vermelha, a frescura, os taninos e a acidez são pontes fortes. Com o passar das décadas em garrafa, mediante múltiplas reacções químicas, o vinho fica mais delicado, com aromas mais subtis e menos fruta, mais macio e muito menos fresco. Daí que quem não aprecie estes aspectos e diferença, mais vale esquecer ponderar apreciar um vinho envelhecido.
Sogrape Tinto Garrafeira 1980


Quanto a este vinho, oriundo de um mítico produtor, o primeiro aspecto é que o vinho não teve a guarda ideal, com rolha já sangrenta, e certamente teve oscilações qualitativas na sua conservação. Com uma cor tijolo muito carregada, oriunda do envelhecimento, tem aroma forte, onde não se percebe nem se identifica a fruta, numa mescla de impressões difíceis de explicar e transmitir por mim. De cor límpida, ainda apresenta alguma frescura na boca, algum gosto ténue oriundo da fruta. Já passou há muito o seu auge enquanto vinho, mas aprecio estas diferenças, e esta garrafinha é mais velha que eu!
Cheers!