Nelson Moleiro
Vinhos Muxagat: Rosé e Tinta Barroca Colheitas 2015

Muxagat. O nome é muito sugestivo, e a primeira vez que o vi no mundo dos vinhos remeteu-me de imediato para a localidade de Muxagata, situada no concelho de Vila Nova de Foz Côa. Seriam estes vinhos oriundos da Muxagata que sempre ouvi falar por razões familiares? Das viagens de Mira de Aire aos confins de Trás-os-Montes, a caminho de Carção no distrito de Bragança? E sim, são mesmo daquela região, ali na transição entre o Douro Superior e Trás-os-Montes. Em termos DOC são Douro, mais precisamente Douro Superior, ilustremente reconhecido pela sua qualidade nos vinhos que produz. O primeiro vinho Muxagat que contactei foi no ano passado, um Tinta Barroca 2014, e na altura impressionou-me pela ideia com que fiquei dele. Pareceu-me um vinho autêntico, sem muita manipulação, a transparecer todos os argumentos e características do terroir em que insere, sem grandes alquimias, dando prioridade às propriedades das uvas e às características do terreno como fundamentos primordiais. Ao fim ao cabo, o que procuramos hoje num vinho distinto, pelo menos da minha parte, é uma vertente inovadora mas sem descurar as tradições e carácter rústico. Hoje em dia estamos a correr o risco sério de internacionalizar e padronizar em demasia os vinhos, numa consanguinidade pachorrenta e imoral. Desde então, foram vinhos que ficaram sob o meu radar.




Após uma pesquisa efectuada na altura, e aguçada pela curiosidade, fiquei a saber que afinal isto era malta que percebe muito de vinhos, fazendo de todos nós insignificantes neste mundo de falar sobre garrafinhas. Ora vejam, o projecto Muxagat Vinhos partiu de Mateus Nicolau de Almeida, filho de João Nicolau de Almeida, que durante décadas desenhou e projectou os vinhos Ramos Pinto, e neto de Fernando Nicolau de Almeida, somente o homem que fez nascer o Barca Velha. Coisa pouca esta família! Mateus seguiu os passos do pai e após formação especializada em Bordéus lançou-se com suas próprias ideias, os seus vinhos contemplam uvas provenientes de vinhas da Quinta do Monte de Xisto, familiar, e da Quinta da Vale Cesteiros na Mêda, onde hoje se situa também a Adega Muxagat. A visão é apaixonante e assertiva, e conceitos como agricultura biológica e biodinâmica, acompanhamento criterioso e dedicação à vinha em todo o seu ciclo, intervenção minimalista na vinificação, entre outros, fazem de mim um fã incondicional destas pessoas.
Um aspecto que desconhecia é a opção pelo uso de leveduras autóctones, e isso é um aspecto fulcral, já que as leveduras de cada sub-região, mais adaptadas ao ambiente local, permitem conservar ao máximo as características e propriedades organolépticas nos vinhos locais. Pode parecer somente um preciosismo, mas se pensarmos bem não é, pois a estandardização das estirpes numa vertente comercial, faz confluir o perfil dos vinhos para a tal globalização que digamos, é aborrecida!
Mas passando ao que interessa, tarde solarenga de Primavera, Muxagat Rosé 2015 para a mesa. O Tinta Barroca não estava nos planos, mas digamos que me abarbatei da garrafa do rosé logo nos aperitivos, ups!
Muxagat Rosé 2015

Lá no alto na Mêda, a cerca de 600 metros, situam-se as vinhas de Touriga Nacional e Tinta Barroca que dão vida a este vinho rosé. É um vinho obtido pelo processo de prensa e com posterior estágio parcial de 8 meses em carvalho. Possui cor salmão cativante, bem viva e límpida, nos aromas seduz de imediato, com uma complexidade distinta num rosé, aromas a frutos vermelhos e componente floral dispersa, bastante frescura, um conjunto apaixonante. Na boca a madeira transmite uma ligeira untuosidade, a dar um perfil gastronómico a este vinho, com persistência e prolongamento de boca, mas onde a acidez e frescura andam por ali aos saltinhos. Venham mais rosés de vinhas em altitude!
Castas: Touriga Nacional e Tinta Barroca
Região: Douro Superior
PVP: +/- 9€




Muxagat Tinta Barroca 2015

Quem nunca provou este tinta barroca? Se não provaram é obrigatório. Neste vinho temos uma conjugação do que considero uma visão moderna de mãos dadas ao clássico e rústico, respeitando o vinho. Moderno porque temos aqui um vinho que é muito fácil de beber e fresco, clássico e rústico porque é obtido por processos que respeitam a identidade e origem do vinho em si, sem artefactos enológicos. Se gostarão ou não, isso depende de gostos e da predisposição e sensibilidade de cada um.
Esta colheita de 2015 uma vez mais encheu-me as medidas, tem uma cor vermelha mais clara que o habitual num vinho tinto, que estando a exagerar obviamente, por vezes faz lembrar alguns palhetes. No nariz temos aromas florais, mas também a fruta vermelha fresca, que predomina no paladar, muita frescura, jovialidade, a transmitirem uma boa sensação de boca, elegante e com taninos muito suaves. A acrescentar, tal como referido inicialmente, são usadas leveduras autóctones na fermentação em tanques de betão/cimento, com posterior amadurecimento em cubas. Casta rústica, processo rústico, vinho rústico. No final temos um conjunto moderno, actual e diferenciador!
Castas: Tinta Barroca
Região: Douro Superior
PVP: +/- 9€

Cheers!
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