Nelson Moleiro
Maritávora Nº4 Reserva Tinto 2012

Chegamos ao final da semana dedicada a vinhos tintos do Douro que se elevaram no copo Táscuela, e terminamos em grande, com um vinho oriundo dos confins da Região Demarcada do Douro, Maritávora Reserva Tinto 2012, um dito Douro Superior. Confesso que esta classificação me causa uma ligeira "urticária", estamos a falar de um Douro DOC, mas ao mesmo tempo com os pés em Trás-os-Montes. Mas isto são pormenores de índole pessoal que nada interessam para a globalidade deste texto. Esta sub-região tem vindo a crescer muito nos últimos anos e muitos dos players viram este Douro mais remoto e historicamente menosprezado, um local ideal para novas experiências e aposta na produção dos vinhos Douro DOC. O certo é que tem dado frutos, e grandes vinhos têm surgido de uvas e vinhas provenientes deste micro-clima, tanto a solo como em lotes de misturas com uvas de vinhedos do Baixo-Corgo e Cima-Corgo. O Douro deve ser a região vinícola mundial mais rica em elaboração de lotes, temos opções e variações infindáveis. Do Douro Superior saem os vinhos mais marcantes do segmento alto, carácter e identidade duriense. Para quem não está familiarizado com estes termos, basta pensar geograficamente no sentido da corrente do Rio Douro desde Trás-os-Montes até ao Porto, temos então as sub-regiões Douro Superior, Cima-Corgo e Baixo Corgo.
Mas falando da Maritávora Investimentos Lda como produtor, é uma empresa com 150 anos de história localizada no Concelho de Freixo de Espada-à-Cinta, com vinhas situadas a uma altitude média de cerca de 500 metro em solo xistoso. Estas cotas de altitude permitem obter vinhos com boa frescura, os solos fornecem componente mineral e vegetal marcantes. A minha primeira grande experiência com um vinho Maritávora foi um Branco de 2008 de vinhas velhas. Desta vez fiquei impressionado com o Maritávora Reserva Tinto 2012, ainda por mais foi o primeiro vinho que bebi depois de umas férias passadas na ilha da Sardenha a beber brancos Vermentino e alguns tintos Cannonau, estes últimos carregados até ao último dígito. As saudades de um bom tinto nacional já batiam!
Este é mais um excelente exemplo de um produtor que privilegio e dou destaque, agricultura biológica de mínima intervenção e utilização de técnicas e práticas tradicionais na vinha, aliadas a algumas tecnologias modernas na adega e na vinificação. A chave do sucesso e reconhecimento de excelência está na aposta na qualidade e diferenciação, e na Maritávora o respeito pela história, vinha e ambiente circundante impõem-se. A enologia dos vinhos está ao cargo de Jorge Serôdio Borges, nome que dispensa qualquer apresentação, sinónimo de qualidade e projecção dos vinhos Douro DOC (Wine & Soul, Quinta da Manoella, Quinta do Passadouro, Maritávora).
Maritávora Nº4 Reserva Tinto 2012
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz entre outras (vinhas com idades entre os 15 e 50 anos)
Região: Douro, Sub-região Douro Superior
Teor Alcoólico: 14% Vol
PVP: +/ 17€


A prova, é esse o termo que costumo usar, desta vez não lhe vou chamar isso, até porque se bebeu a garrafa toda, e bem acompanhada por dois belos queijos italianos, Pecorino Sardo e Casizolu di Pecora. Classificado como vinho biológico, foi vinificado em lagar de pedra com pisa a pé e estagiou 18 meses em barricas de carvalho francês.
No nariz emana frescura, automática percepção vegetal e mineral, algo terroso, com bom envolvimento do fruto negro. Na boca bastante intensidade, boa fruta madura e mineralidade xistosa em destaque (sensação de pedra molhada). Taninos vivos a crepitarem uma adstringência interessante e bem integrados pelas ligeiras notas de madeira, cheio de frescura. Aprazível de beber com final longo e seco como gosto. Vinho de altíssima qualidade.
Espero que tenham apreciado as três sugestões apresentadas durante esta semana. O fim-de-semana está à porta, bons vinhos!
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