Nelson Moleiro
Wine Fest Porto 2017 by Wine Club Portugal

Decorreu no passado sábado a 2ª edição do Wine Fest Porto by Wine Club Portugal, mais precisamente no salão nobre da Alfândega. Com estreia em 2016 no Porto, este evento nasceu pela visão e mão de Luís Gradíssimo, fundador do Wine Club Portugal, conhecido blogger, com o seu Avinhar, e um verdadeiro amante e embaixador de bons vinhos. Muito dinamismo aliado a trabalho e paixão pelo que faz e promove, os meus parabéns a toda a equipa. Nesta que foi a minha presença no certame, adorei e saí do Porto com acérrima crença que foi um verdadeiro sucesso. Um evento que já apostava e continuou a apostar numa identidade própria, selectividade e qualidade nos produtores e vinhos presentes em prova, a decorrer num local idílico em ambiente sereno e tranquilo, óptimo para quem pretende conhecer novos vinhos, aprender e partilhar opiniões e visões com produtores, enólogos e outros consumidores.
O evento decorreu das 15 às 20 horas, e tendo eu participado nas três provas especiais, (Casa da Passarella, 125 Anos de História; Os Segredos de Joaquim Arnaud; Horácio Simões, uma história à volta do Moscatel Roxo), pouco tempo tive para percorrer as capelinhas. Acabei por optar por contactos e provas cirúrgicas do meu interesse e curiosidade pessoal.
Casa da Passarella, 125 Anos de História
Confesso que mal vi que a Casa da Passarella iria estar presente no evento, e em concreto com esta prova especial da primeira referência da casa, o Villa Oliveira, não olhei para mais nada. Tenho de ir! Ainda mais com a presença do enólogo, Paulo Nunes, famoso pela enologia nos vinhos que assina, e também pelas palestras e explicações informais e entusiastas que faz sobre a região do Dão.
Vinhos em Prova
Villa Oliveira Branco 2012
Villa Oliveira Branco 2015
Villa Oliveira 1ª Edição Branco 2010-2015
Villa Oliveira Tinto 2009 (Touriga Nacional)
Villa Oliveira Tinto 2011 (Touriga Nacional)
Villa Oliveira Tinto 2012 (Vinha das Pedras Altas)
Villa Oliveira Tinto 2014 (Touriga Nacional)
Villa Oliveira Passarella Tinto 2014 (125 Anos de História)

No que toca aos brancos o primeiro vinho no copo foi o Villa Oliveira Branco 2012. Excelente acidez, elegância, ainda jovem, superiormente harmonizado com a madeira, e não tendo no corpo a sua maior virtude mostra bom volume e prolongamento em boca. Seguiu-se a colheita de 2015, que me encheu totalmente as medidas, que grandioso vinho branco, mais citrino no nariz, boa acidez que envolve e cativa em boca, e curiosamente mais evoluído e pronto, com muito menos barrica, o que me levou a perguntar ao enólogo qual tinha sido a alteração promovida no estágio em madeira. A resposta foi interessante e que revela que pequenas alterações no processo de vinificação e no blend final traduzem-se em resultados interessantes. Neste vinho temos 5 a 10% de vinho de curtimenta que retira expressividade à barrica na prova. Eu gostei muito mais deste Villa Oliveira Branco 2015, mas estão ambos em início de vida. Para finalizar os brancos foi oportunidade de degustar o Villa Oliveira 1ª Edição Branco 2010-2015 (rótulo preto), um blend com as 5 colheitas de 2010 a 2015, 5 anos de Villa Oliveira numa garrafa. Temos uma vez mais um excelente vinho, em linha com os anteriores, sendo que a curtimenta introduzida no vinho de 2015 é aqui "abafada" pelas outras colheitas. O Paulo Nunes refere um aspecto importantíssimo que julgo irá ajudar a mudar o paradigma dos grandes vinhos brancos portugueses, e em especial o grande potencial que o Dão alberga. Falo da experimentação e observação em linha com o espaço temporal, dar tempo aos vinhos, deixar evoluir e engrandecer os vinhos. E não me vou esquecer desta afirmação: "Os brancos com madeira são dominados por esta ao início, mas depois evoluem. Há que perceber mais a barrica".


Passando aos tintos, uma tarefa difícil, tal a qualidade apresentada. Contudo, enalteço o Villa Oliveira Tinto 2009 e 2012 e o Villa Oliveira Passarella 2014 blend, edição comemorativa dos 125 anos. Mas como digo, um autêntico crime estar a tentar destacar vinhos com esta distinção e qualidade marcantes. No primeiro Villa Oliveira de 2009 procura-se dar ênfase à Touriga, a casta nobre em Portugal, excelentes notas aromáticas florais, grande presença em boca, frescura e presença da fruta dominantes. É um touriga nacional elegante, com excelente capacidade de evolução, e como costumo dizer está cirurgicamente "amansada". Apesar de conter a mesma graduação alcoólica, a colheita de 2011 pareceu-me mostrar um vinho menos fresco, menor acidez e com maior percepção alcoólica, contudo com estrutura e taninos sólidos a perspectivarem uma evolução favorável. Passando ao Villa Oliveira Tinto 2012, temos a única referência Villa Oliveira proveniente de um uvas de vinhas velhas com mais de 24 castas catalogadas (como todos os Villa Oliveira), originam um vinho mais vegetal, denso e áspero, adorei. Certamente um vinhão no futuro, a reter! Mais dominância da Baga, Jaen e Alfrocheiro e originarem um Villa Oliveira distinto e que está no topo das minhas preferências. O quarto vinho tinto em prova foi o Villa Oliveira Tinto 2014, mais um Touriga Nacional, ainda não disponível no mercado, irá sair para o ano. Um grande vinho, apesar de muito jovem (uma pessoa acaba no ridículo de se repetir), bons aromas a pura fruta, ainda algum álcool e extremamente gastronómico. A prova finalizou com a edição comemorativa dos 125 Anos da Casa da Passarella, o Villa Oliveira Passarella Tinto 2014. Menos aromas, mais fruta fresca, algo diferente dos anteriores, marcado ao meu olhar por um pouco mais de concentração, contudo a secura, perfil vegetal e estrutura tânica sempre presentes a marcar elegância e potencial de guarda impressionantes. O enólogo Paulo Nunes procurou recuar a 1893 e tentou perceber o encepamento da altura e todas as condicionantes pós-filoxera, tendo este vinho uma matriz assente em Baga, Jaen, Alvarelhão, Tinta Amarela e Tinta Carvalha. A garrafa e rótulo procuram ser réplicas exactas do original.



Guardar religiosamente e acreditar no envelhecimento é fundamental. como resultado, melhor vinho e com demonstração cabal do grande potencial do Dão. São pessoas como Paulo Nunes que certamente irão colocar Portugal na rota dos grandes vinhos, assentando na crença fiel do potencial de uma região e respeitando as tradições e património genético das vinhas à sua disposição. Os meus sinceros parabéns.
Os Segredos de Joaquim Arnaud
Para a segunda prova especial do dia foi convidado Joaquim Arnaud. Um momento raro para poder primar com o produtor e falar um pouco de alguns dos seus vinhos e sua visão. Uma grande oportunidade para conhecer vinhos raros e de pequena produção, com algumas referências muito exclusivas. Desconhecia por completo tanto os vinhos como o produtor, gostei muito da personalidade de Joaquim Arnaud onde reflecte toda a sua irreverência na produção de vinho, produzindo vinhos de personalidade forte, complexos e de enorme evolução.
Vinhos em Prova
Joaquim Arnaud Espumante Bruto 2014
Arundel Tinto 2009
Arundel 36 Tinto 2009
Arundel T&T Tinto 2012
Arundel Great Tinto 2008
Arundel Great Tinto 2013
Arundel "Nº4" Tinto 2014

Iniciou-se o baile com o mais recente espumante do produtor, engarrafado há 2 meses, um espumante bruto da Bairrada elaborado a partir de uvas Chardonnay e Arinto da colheita de 2014. jovem, com aromas citrinos, maçã verde, mas expande e dá amplitude de boca, a pedir comida. A partir daqui tintos à prova, começando com Arundel 2009 mas onde também incluo o Arundel T&T 2012, vinhos com componente balsâmica no nariz, algo resinosos, ligeiramente especiados. Elaborados com Aragonez, Trincadeira, Alicante Bouschet e Syrah de uma vinha plantada em 2001 e com estágio de um ano em barricas. Bastante adstringentes, ainda com muitos taninos e onde domina o Alicante Bouschet. Destaco a superior integração da barrica, sem qualquer sobreposição, bastante frescura, principalmente na colheita de 2009, já o 2012 ainda está jovem e pede evolução. Passando ao Arundel 36 2009, estamos na presença do mesmo vinho anterior, que ficou esquecido em barricas por 36 meses, o que vale dizer que um acaso gerou um óptimo produto final. Muito vegetal no nariz, alguma menta, na boca grande frescura com algum balsâmico. Nota muito positiva.
Chegamos aos "Greats", colheita de 2008 e 2013, vinhos 100% Alicante Bouschet com estágio de 12 meses em barricas. Possuem elevada estrutura e complexidade, com a casta a exprimir-se em toda a sua potencialidade, maravilhoso bouquet. O Great 2008 muito intenso no nariz, bastante fruta pura, algo resinoso. Foi vinificado sem qualquer adição de leveduras, pura fermentação espontânea, peca pela percepção alcoólica elevada (teor alcoólico 15,4% Vol). Quanto ao Great 2013, apesar de ainda muito jovem e com os taninos muito verdes em boca, supera a meu ver o 2008, considerando-o melhor vinho e com enorme potencial. É aguardar que caia no mercado. Para finalizar, Joaquim Arnaud trouxe-nos o Arundel Tinto 2014, nome de código Nº4. Aqui foi adicionado Syrah (1%), Arinto (2%) e Aragonez (3%) ao Alicante, e apesar de ser um vinho mais recente, está mais pronto para consumo. Muito obrigado pela partilha e ensinamentos.
Horácio Simões, uma história à volta do Moscatel Roxo
Na última prova especial do dia, coube à Casa Agrícola Horácio Simões oferecer uma experiência degustativa de alguns dos seus vinhos moscatéis mais distintos, nomeadamente o Moscatel Roxo, o ex-líbris da região. Confesso que foi uma prova que embarquei num registo mais tranquilo e descomprometido, em primeira mão porque não sou apreciador entusiasta deste vinho generoso, e depois porque sou um verdadeiro principiante na matéria em causa. Contudo ressalvo a preocupação do produtor em diferenciar os vinhos apresentados em prova, de forma a uma pessoa conseguir distinguir algumas nuances nos diferentes estilos, colheitas e estágios de moscatel. Dos diferentes vinhos em prova destaco o Moscatel Colheita 1974, com guarda em tonéis mais garrafão de vidro, a revelar apreciável frescura, um vinho Moscatel Roxo de 2010 que navega e estagia no porão do barco Évora, renovando a tradição do vinho "Embarcado", e o Moscatel Roxo Superior 2005, altamente diferenciado e distinto por ser usada aguardente da região de Armagnac na sua produção. As provas de moscatéis de mesma colheita mas com engarrafamentos temporais distintos permitiu discernir e aprofundar conhecimentos sobre a evolução destes vinhos e as alterações que se produzem ao longo do seu envelhecimento. Sou totalmente franco, atiro-me de cabeça a generosos da Madeira pela sua acidez, frescura e secura, também aprecio uns bons Portos Tawny, os Moscatéis ainda não me convenceram totalmente, mas fiquei completamente elucidado que uma visita in loco a um produtor artesanal e secular como Horácio Simões me trará uma perspectiva diferente e fazer engolir estas palavras. Para uma futura visita.


Será que ainda tive tempo para palmear alguns produtores presentes no salão principal do evento? Claro que sim! Não tive oportunidade de provar e falar com todos mas deixo alguns dos vinhos que se evidenciaram pela sua irreverência, diferença e qualidade.
Espumantes
Quinta de Abibes Arinto & Baga Reserva Extra Bruto 2013, uma obra de arte do Professor Batel
Casa de Saima Reserva Bruto 2015
Brancos
Quinta do Cardo Vinha Lamedo Síria 2014
D. Graça Samarrinho 2016
D. Graça Donzelinho 2016
Pessoa da Vinha Blend 2016
Alto do Joa 2015 (Branco de Curtimenta). Elegi como o vinho que mais me surpreendeu no evento, um produtor de Trás-Os-Montes que ficou no meu radar, grande descoberta pessoal.
Rosés
Rosé da Fita Preta Non Millésimmé
Tintos
Quinta do Cardo Vinha do Castelo Tinta Roriz 2014
Alto do Joa 2014
Pessoa da Vinha Blend 2015
Um agradecimento especial ao Luís Gradíssimo mas sem esquecer toda a organização do Wine Fest Porto 2017, incluindo produtores e enólogos presentes, que mesmo saturados de tantas feiras nas últimas semanas, mostraram abertura e paciência invejáveis. Com o término desta edição o evento sofre uma reestruturação passando-se a chamar Enóphilo Inspired by Wine.
Até para o ano. Cheers!

















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