Nelson Moleiro
Rodeio Reserva Tinto 2002

Vida malvada! Tem sido uma correria desde que o ano deu a volta, muita dinâmica a nível pessoal e profissional. A juntar a isso, alguma preguiça física e mental para me dedicar à escrita no blogue, tenho optado por molhar o bico em tudo o que me aparece no copo. Por vezes faz-nos bem parar, repensar, e avançar com ideias já bem estruturadas. Stay focused, já dizia o outro. Bem, em termos concretos no que toca a buída, nestas últimas semanas deparei-me com umas garrafas de um vinheco, daqueles que se arranjam quando se vão comprar alfaces. Um gajo vai dando ouvidos e partilha opiniões com pessoas que detêm a mesma sanidade (ou será insanidade?) que eu, e dá nisto. Não há lugar a pin's elitistas, só malta com pinta. Nesta jornada vínica é o que realmente importa e nos enriquece, uma mão cheia de malandrecos ao redor de umas boas garrafas de vinho! E pronto, duas alfaces, uma cabeça de nabo e um quilo de cenouras para equilibrar a balança, lá tratei de trazer um vinho de terras do Dão, daqueles cheios de pó, esquecido com injustiça na prateleira. Rodeio Reserva Tinto 2002, um vinho pertencente à Quinta de Darei, onde se insere a iluste Casa de Darei e seus vinhos, lá para os confins de Mangualde, terra de boas pingas. No que toca à prova, relaxada e descomprometida, uma enorme surpresa pessoal quando provei um vinho com esta qualidade, 16 anos após a colheita, e sobre qual não depositamos qualquer expectativa ou pressuposto, simplesmente beber sem pensar. Sim, beber! Um vinho ali perdido, desconsiderado, a um preço de fazer rasgar muitos sorrisos, e a saber realmente a vinho, autêntico. Sem rodeios, um vinho que emana simplicidade, pureza na fruta, frescura, nariz contido mas aprazível, e na boca amplitude, nada de extracção excessiva, sem se notar qualquer degradação negativa associada ao envelhecimento. No nariz, presença ténue de notas de couro e cavalinho suado, que justa ou injustamente associo a brett. Um pequeno defeito que a meu ver, nesta escala tão diminuta, se torna uma qualidade, um elemento diferenciador e que engrandece o vinho. E é isto, tanto por tão pouco, um colheita do ano de 2002 que me deu enorme prazer de conhecer e beber! Deixemo-nos de tretas, o Dão veio para ficar, e oferece vinhos do caraças! Até já, vou comprar alface!

Rodeio Reserva Tinto 2002
Castas: Lote de castas regionais que desconheço
Região: Dão
Teor Alcoólico: 12,6% Vol
PVP: 6€

