Nelson Moleiro
Desnível Colheita Seleccionada Tinto 2016

É recente o meu contacto com vinhos do enólogo João Pinto Lopes, responsável pela enologia dos vinhos da Quinta da Covada, à qual acrescenta um projecto pessoal, o Desnível, tinto duriense idealizado para expressar e manifestar toda a essência do terroir e micro-clima do Douro, de uma maneira própria e pessoal, e que eu diria mais verdadeira e autêntica, com princípios e visão bem traçados. João Lopes tem procurado produzir bons vinhos sem se colar a modas e tendências.
Gosto da Região Demarcada do Douro, aliás todo aquele cenário é apaixonante, um autêntico quadro paisagístico. Gosto dos vinhos do Douro, já gostei bem mais é certo, ou sendo politicamente correcto,digamos que andamos um bocado "desamigados". A maior concentração, extracção, e complexidade de muitos dos seus vinhos, a que se junta uma definição de perfil pessoal no sentido oposto, tem-me afastado destas bandas, fundamentalmente se estivermos a falar de tintos. Com a descoberta pessoal do Quinta da Covada Reserva Tinto 2013, e após uma troca de conversas com o enólogo, fiquei curioso e ao mesmo tempo crente no projecto Desnível. Na minha opinião, assenta numa ideologia de concepção de vinhos mais frescos, com tentativa de fugir à monotonia vínica na região. Tenta-se produzir algo diferente, mais terreno, não ser mais do mesmo, e desta forma demarca-se de uma realidade relativamente pachorrenta.
Desnível Colheita Seleccionada Tinto 2016
Castas: 50% Touriga Franca e Rufete (Vinhas Velhas) e 50% Touriga Nacional
Região: Douro (Cima-Corgo)
Teor Alcoólico: 13,5% Vol
PVP: +/- 15€

Gostei bastante deste Desnível Colheita Seleccionada Tinto 2016. Uma visão e interpretação perante os vinhos durienses muito singular e rara nos dias que correm. Expressa o potencial da região sem se tornar naquele vinho sobrematurado e alcoólico. Acredito que irá crescer imenso, grande Touriga Franca, que em conjunto com a Touriga Nacional conferem-lhe um nariz com fruta fresca dominante, bastantes descritores florais que indiciam a presença de fruto de grande qualidade e pureza. Bom estágio na madeira (15 meses), que apenas se limita a perpetuar o seu desígnio técnico, ou seja, ajustar e conferir alguma complexidade extra, tornar o vinho um pouco mais elegante. Sendo mais preciso, a madeira eleva o Desnível 2016, não se sobrepõe. O vinho propriamente dito, destaca-se (como sempre deveria ser), bastante tanino e rusticidade da Touriga Franca. É uma casta que aprecio nos vinhos do Douro, confere-lhe estrutura e bom nervo para crescer em garrafa. Excelente trabalho, não está muito verde nem está sobrematurado, bom equilíbrio. E as vinhas onde estão situadas? Cima-Corgo? Douro Superior? Pelo vinho em prova apostaria num vinho oriundo do Douro Superior, mas não, as uvas são provenientes do Cima-Corgo. Metade do lote de vinhas velhas de zona alta com muita Touriga Franca, e outra metade é Touriga Nacional de zona mais baixa. Ambas expostas a norte o que confere maior frescura e acidez.

Agora é ver crescer o menino em cave, e deposito grandes expectativas na sua evolução!
Cheers!
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