Nelson Moleiro
Vertical Batuta

Dirk Niepoort é um nome incontornável no panorama dos vinhos portugueses. Graças a ele, o nome de Portugal, e em concreto o vinho português, é falado e reconhecido além fronteiras. Com personalidade única, Dirk revolucionou o mercado, quebrou tabus, lançou polémicas, venceu e convenceu. Quando falamos de Dirk Niepoort nada é consensual. Não precisamos de ir muito longe, basta olhar para o seu cabelo. Um verdadeiro vigneron de colete, um David Attenborough dos vinhos portugueses. Muito temos a agradecer a este homem, um muito obrigado Dirk pelos vinhos que produz.
Mostrou ao povo português o que se faz bem lá fora, transportando e adaptando para solo nacional, o início da mudança de mentalidades e a procura constante do nível de excelência nos vinhos.
Douro é uma região tradicionalmente de vinhos onde a fruta, concentração e estrutura são imagens de marca. O Batuta, um vinho que foge um pouco à tradição. As vinhas velhas que originam este vinho dão-lhe uma concentração média, onde a frescura e elegância permitem um tinto duriense fora do mainstream, incrivelmente particular e com uma prova e interpretação pessoal complexa e interessante.
"(...) A base deste vinho é a vinha do Carril, com mais de 70 anos, situada numa encosta virada a Norte, que permite obter maturações lentas e equilibradas. Provém também de outras vinhas velhas (com cerca de 100 anos), próximas da Quinta de Nápoles. O Batuta resulta de uma vinificação delicada, com macerações levadas ao limite, onde todos os detalhes são tidos em conta para que se obtenha um grande vinho, complexo, fino e elegante."
Vertical Batuta 2007-2015 e....2016
A prova dos vinhos decorreu no sentido da colheita mais recente para a mais antiga, da colheita de 2015 até 2007. Pelo meio fomos abonados por uma garrafa da colheita de 2016, ainda não disponível no mercado, trazida pelo caro João Craveiro Lopes, o dinossauro criador das Verticais de Gouveia. Os vinhos presentes mostraram-se em plenas condições, grande forma, pelo que é sempre injusto destaques ou sobrevalorização de determinadas colheitas, sendo um mero exercício pessoal, subjectivo e nada consensual, e ainda bem. Vale o que vale, que a meu ver se traduz numa experiência única de degustação comparativa. As colheitas 15, 14, 13 e 12 apesar de terem sido servidas acima da temperatura ideal, mostraram-se vinhos com perfis elegantes, de concentração moderada, bem abaixo do habitual no Douro, com cores rubi médias, proeminentes no nariz, complexos, a mostrarem fruto do bosque fresco de altíssima qualidade, alavancados numa excelente mineralidade, com tensão, frescura e nervo em boca, boa estrutura, sem descurar a elegância e carácter sedoso que se pretende neste perfil, e uma composição taninosa redonda a permitir bons prolongamentos em boca, à excepção (na minha opinião) no 2015, algo curto em boca. São vinhos que perdurarão e envelhecerão de uma forma subtil e rica.
Na colheitas mais antigas, já se verificaram cores mais carregadas, mais intensidade na cor, onde a complexidade de aromas se mantém, aqui com fruta mais madura, algumas especiarias e notas balsâmicas. Um aspecto transversal a todos os vinhos provados: integração de barrica magistral, imperceptível, a cumprir o seu desígnio de estruturação do vinho, sem qualquer nota de sobreposição. Não sei como fazer sobressair algum vinho, 2011 e 2010 grandes vinhos, já num bom momento de consumo, mais prontos e aveludados, mas com estrutura e densidade em boca, taninos e vigor, sempre tudo bem integrado e harmonizado numa mineralidade invejável. A nível de escolha e preferência pessoal, recaí sobre as colheitas de 2008 e 2009, que considero à data de prova, duas amostras representativas da excelência Niepoort em todas as dimensões, vinhos de topo mesmo 10 anos depois, e ainda com uma longa vida em garrafa. Sentem-se várias camadas e dimensões no vinho à medida que evolui no copo, desde austeridade, elegância, mineralidade, fruta, especiarias inerentes ao estágio, notas evolutivas, tudo tão complexo e com uma riqueza de interpretação extraordinária. A colheita de 2007, na mesma linha, só tendo notado um pouco mais de evolução a sobressair nesta garrafa.
A prova decorreu em Leiria, num encontro descomprometido de frequentadores assíduos neste tipo de certame, ahahah. O local escolhido foi a Churrasqueira Dom Duarte, na Barosa, famoso por servir o melhor pito da região, entre uma variadíssima oferta de carnes de churrasco. Um tratamento e serviço impecáveis, carnes de enormíssima qualidade, uma referência no conceito e enquadramento de restauração em que se insere. Uma mais valia para Leiria, o churrasco habitual cá de casa.
Restaurante Churrasqueira D. Duarte
Rua Dona Maria 150 | Barosa, Leiria 2400-014, Portugal
+351 244 824 965


Após a Vertical de Batuta, desenrolou-se a habitua excentricidade, um autêntico desfile e baile de vinhos trazidos pelos participantes, uns para acompanhar a refeição, outros o pós-refeição e muitos deles parceiros no after-hours. Tudo envolto em convívio e com uma boa dose de loucura, daquela sã, como tanto me agrada.
Venha a próxima!