Nelson Moleiro
Quinta do Poço do Lobo Reserva Cabernet Sauvignon 2003

Hoje é dia de autocrítica, dia de dar na cabeça a mim mesmo. Eu que sou um indivíduo que proclama a autenticidade e herança nacional, e que nos vinhos se traduz em defender com unhas e dentes a bandeira das castas nacionais, criticando a importação das castas estrangeiras para as nossas vinhas, vai na hora, bato com a cabeça na parede e entro em contradição. Uma pessoa prova uma coisa aqui e ali, com a premissa e expectativa inicial de uma crítica negativa, acaba afinal por ter óptimas surpresas. Aconteceu-me recentemente com um tinto da Bairrada, ao beber um Quinta do Poço do Lobo Reserva Cabernet Sauvignon 2003, gostava que não me tivesse sabido tão bem, sou sincero. A região da Bairrada é capaz de ser a região vinícola Portuguesa que mais promoveu a adaptação de castas internacionais ao seu terroir, tanto brancas como tintas, e com óptimos resultados práticos, principalmente na espumantização, mas também nos vinhos tranquilos.
Um verdadeiro Bairrada, quer seja branco ou tinto, necessita de tempo, são vinhos com ADN e estrutura para guarda, basta dizer que é o terroir berço da Baga. Olhando para garrafas soltas na minha garrafeira, quis ver e aprender como se comportava um Cabernet Sauvignon de referência na região passados 15 anos. O Cabernet da Bacalhôa tem por certo o maior reconhecimento e fama a nível nacional, mas meus caros, este Poço do Lobo 2003 está do carai.
Quinta do Poço do Lobo Reserva Cabernet Sauvignon 2003
O vinho foi decantado previamente cerca de uma hora, apresentava-se algo turvo e com sedimentação, com uma cor forte entre o violácea e o tijolo. No nariz, notas picantes e ligeira especiaria, madeira muito suave, bastante presença de fruto vermelho maduro que domina um ligeiro vegetal. Os anos em garrafa amaciaram os taninos, a austeridade já não é factor que domina, estará certamente mais elegante que numa fase precoce, com tanino presente mas com intensidade média, de boca cheia e com volume. O que o torna apelativo e com lugar a destaque é a frescura que apresenta em boca, proporcionada pela boa acidez da região, revelando um excelente comprimento no palato. O estágio em barrica forneceu sabores adicionais e secundários ao Cabernet, alguma especiaria, entre outros, e que na perspectiva evolutiva se integraram bem com os aromas e sabores característicos da uva, ameixas negras, groselhas, pimentos.
Castas: Cabernet Sauvignon
Região: Bairrada
Teor Alcoólico: 13,5% Vol
PVP: +/- 18€

Há uns dias, voltei a ler um parágrafo que escrevi em inícios de 2017, numa fase embrionária da minha caminhada, e de facto, passados dois anos permanece actual e intocável.
"Quando uma pessoa é jovem e rookie nestas andanças procura absorver ao máximo todas as experiências, e de facto a experimentação é a arma secreta no mundo dos vinhos. Muito há para aprender e ler, mas também é na experiência que vamos percebendo algumas coisas. Não basta que nos digam: "devias experimentar o vinho tal, do ano não sei quantos, é divinal". Há que tentar provar e ser criterioso, recorrer à autocrítica perante o que temos em frente, mais ou menos fundamentada, sem condicionantes nem medo de sermos contraditórios ou mesmo não concordantes com alguma critica dita especializada. No fundo, sermos fiéis a nós próprios e a quem nos segue."





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