Nelson Moleiro
Preço galopante dos vinhos em Portugal

Este é um tema muito controverso, já falado milhentas vezes, que leva inclusive malta a chatear-se, e que acaba por criar muitos anticorpos na indústria e comércio do vinho. Contudo, na minha perspectiva, em alturas específicas e com critério temos que voltar à vaca fria. Esta é uma delas! Não é por estarmos em época Natalícia que as pessoas andam grogues. E volto a este tema, porque é no período que decorre entre as vindimas e o Natal que os grandes produtores, as grandes casas, fazem os lançamentos das suas novidades, os seus super, hiper, mega reservas, vinhos dignos do Olimpo. Pelo menos, assim os publicitam.
Eu vejo isto de forma muito objectiva, ponderei até se deveria voltar ao assunto, mas lá achei que o deveria fazer, até porque, julgo estarmos a entrar numa bolha prestes a rebentar, o que muitos produtores hoje julgam ser a galinha dos ovos de ouro, poderá levá-los no sentido inverso, manchar e ferir perigosamente o mercado do vinho em Portugal. É mais que evidente que os preços dos vinhos, regra geral, e em especial em alguma regiões, tinha que ser actualizado. Alguns preços praticados não eram justos nem dignos, até porque a qualidade subiu consideravelmente. Contudo após este ajuste honesto, passámos a ver coisas impensáveis, tudo a querer ter o borrego mais valioso. O Zé, que ganhou alguma notoriedade, até alguns prémios da fabulosa imprensa, diz que vai fazer um vinho com uvas da sua melhor vinha e vai ser vendido por 50€, o vizinho António fica todo invejoso, e se o vinho do Zé vale 50€ o dele tem que valer 70€, e por aí adiante. Está tudo completamente louco. Nas últimas semanas foram lançados vinhos de edições limitadas a preços pornográficos, e a meu ver, só porque sim! Ora o vinho está na moda, bora lá encher o pote, é este o lema! O problema é que isto pode ser perigosíssimo, porque o consumidor e enófilo informado não é burro, simplesmente não vai comprar e decide procurar alternativas lá fora. Faz uma pesquisa, reúne umas dicas, prova umas coisinhas e descobre que afinal há muito, e bom vinho lá fora, e que afinal o preço não é assim tão diferente, aliás chega até ser mais barato que estes novos Ferraris tugas. E depois? Será que voltam? E mais não digo...
...a não ser isto: Porque é que depois vendemos lá fora, além fronteiras, ao desbarato? Pelo óbvio, porque é difícil competir no binómio qualidade/preço. Ninguém compra vinho português a estes valores. Considero desproporcionado e injusto o que está a acontecer no mercado interno.
Será esta a nossa cultura? Enfim...
P.S: Os vinhos da foto, em nada estão relacionados com este texto, até que para vinhos desta qualidade lá fora teríamos que pagar daquelas chorudas. Felizmente e ainda bem que existem excepções.