Nelson Moleiro
El Lance 7 Fuentes 2016

Muito fresco, pouco álcool, alguma sensação funky de redução no nariz que associo e considero inerente ao terroir vulcânico, mas que passa com uma ligeira e rápida decantação. Este aspecto sensorial na prova não se pode dissociar do carácter vulcânico dos vinhos das Canárias. Contudo este El Lance é muito mais que um vinho vulcânico, exibe uma salinidade belíssima e carismática, sedoso em boca, algum fósforo, desafiando-nos a quebrar barreiras. A abordagem enológica de intervenção minimalista na vinificação, aliada a um perfil pouco extractivo e pouca concentração, permite obter vinhos com tremenda frescura e carregados de essência. É o primeiro tinto que bebo das Bodegas Suertes del Marqués, e fiquei rendido ao conceito.
Os vinhos Bodegas Suertes del Marqués estão inseridos geograficamente no Valle de la Orotava, a Norte da ilha de Tenerife. Este El Lance muda com cada colheita, procurando-se escolher as castas e uvas que melhor se apresentam naquele ano. A colheita de 2016 é um lote de castas autóctones, onde domina o Listán Negro, mas onde estão presentes variedades como Vijariego, Tintilla, Baboso Negro e Malvasia Rosada. As uvas são provenientes de diferentes parcelas de solos de origem vulcânica, entre 300 e 650 metros de altitude e com idades variando de 60 a mais de 100 anos, aldeias e povoados distintos, numa colaboração entre produtores locais. As parcelas destinadas aos vinhos Suertes del Marqués fermentam de forma natural e isoladamente em tanques de cimento a temperatura controlada. No final da fermentação, o vinho é transferido para tonéis de madeira de 500 litros onde realiza a fermentação maloláctica e é envelhecido durante 9 meses sobre borras. O Suertes del Marqués El Lance 2016 é engarrafado sem qualquer colagem ou filtragem.
Suertes del Marqués El Lance 7 Fuentes 2016
Castas: Listán Negro, Vijariego, Tintilla, Baboso Negro e Malvasia Rosada
Região: Tenerife, Ilhas Canárias, Espanha
Teor Alcoólico: 13% Vol
PVP: +/- 15€



Existe um pormenor muito interessante, o sistema trenzado das videiras, um cordão trançado tradicional, único no mundo. Fica a referência a um site da C.R.D.O do Valle de La Orotava.

Foto: www.gobiernodecanarias.org
"Durante séculos, o Valle de La Orotava preservou o sistema tradicional de condução de cordões múltiplos, fazendo parte do património paisagístico da área local, que aparece nas encostas do Teide e produz os vinhos da Denominação de Origem Valle de La Orotava, uma singularidade especial. O cordão trançado tradicional é único no mundo e é uma trança que é feita com brotos de videira. A altura do solo é de 0,60 a 0,80 metros. O comprimento das videiras varia de 3 a 4 metros em locais estreitos a 15 metros se a videira é velha e tem bastante vigor. Era usado na sua origem como forma de aproveitamento de espaço útil de vinha. Implica um grande trabalho manual em todas as suas etapas, desde a poda até a colheita, uma vez que são a pé francamente e a singularidade do terroir faz do cordão trançado uma tarefa artesanal."
Retirado e adaptado de www.dovalleorotava.com/cultivos/cordon-trenzado