Nelson Moleiro
Terras de Tavares Reserva 2007

Todos os amantes de vinho que começam a escrutinar o que despejam para o vidrão tornam-se a modos que hipócritas, sensaborões, craques, loucos por qualquer coisa que desperte a sua curiosidade, verdadeiras hienas num frenesim por novidades, queremos tudo o que se afaste do padrão normal do comum dos mortais. Isso faz com que os enófilos sejam, afinal de contas, humanos, e uns verdadeiros chatos. Contudo, tantas são as vezes que o que procuramos está mesmo ali, ao nosso lado, tão perto de nós, o melhor, a excelência. Eu assumo mea culpa, eu próprio divago muito além fronteiras em busca de vinhos com perfil com que me identifico actualmente.
Não sou dos melhores conhecedores dos vinhos de João Tavares de Pina, o nome conheci primeiramente pela extravagância da sua pessoa e por referência dos seus vinhos por alguns amigos. Hoje, após alguns anos, já provei alguns vinhos do seu portefólio, poucas sem dúvida, mas que cunharam a certeza que este produtor faz vinho para quem gosta verdadeiramente aprecia vinho na sua verdadeira essência.
Ao beber este Terras de Tavares Reserva de 2007, sinto que o mesmo foi desenhado e arquitectado para o meu palato, para o meu gosto, perfil, um vinho tão perfeitamente imperfeito, que os picuinhas vão achar aqui e ali o defeito Y e Z. Eu considero-o fabuloso, ao bebê-lo senti-me como que catapultado para as vinhas da Quinta da Boavista, vinho terroso, autêntico, com identidade e assinatura de classicismo do Dão. Mostra-se com uma jovialidade de invejar, grande equilíbrio entre os aromas da fruta pura e os inerentes ao estágio e evolução muito positiva em garrafa, notando-se algumas notas resinonas, de bosque e um frescor de aroma, ligeiro animal e couro. Na boca temos um lado muito vinoso, rústico, em que o tanino fino ainda marca presença, boa acidez e mineralidade a perspectivarem largos anos em plena forma. O final de boca seco, profundo, persistente e salivante, colocam este tinto do Dão num patamar elevadíssimo, só possível para alguns pares, muito poucos. Um projecto vinícola que permite concluir que o potencial nacional e regional reside nesta visão de respeito pela história e herança material e sócio-cultural. Se mais pequenos produtores seguissem um caminho idêntico, os nossos vinhos cresceriam ainda mais e estaríamos bem melhor sem dúvida. Este foi o vinho tinto do Dão que mais prazer me deu beber num passado recente. Para uma experiência degustativa optimizada o vinho melhora com um arejamento prévio.
Castas: Lote de Touriga Nacional e Jaén
Região: Dão
Teor Alcoólico: 14% Vol
PVP: +/- 20€


