Nelson Moleiro
Muxagat Vinhos
Atualizado: 16 de ago. de 2020

O ano de 2020 vai ficar marcado irremediavelmente na História, e por maus motivos como bem sabemos. Esta pandemia avassaladora paralisou o mundo, prejuízos humanos e económicos nefastos, problemas reais que afectam directamente as pessoas bem mais importantes do que os temas mundanos que falo neste espaço. Contudo, isto é um local onde se fala de vinhos e afins, e a COVID-19 afectou imenso este segmento, à cabeça, os produtores, restauração e distribuidores, mas por arrasto todo o tecido empresarial directa e indirectamente relacionado. Com isto tudo, 2020 virou ano de lei seca no que toca a enoturismo, visitas a produtores, feiras, eventos de vinhos, os almoços e jantares com amigos enófilos, as tão famosas tainadas vikings. Como a pandemia veio para ficar, temos que aprender a viver com ela, achar uma nova normalidade no meio da anormalidade, a vida não pára, tem que desenrolar o seu percurso natural.
Com o desconfinamento progressivo, consciencioso e responsável, voltei a poder fazer algo que a adoro, turismo que envolva a temática vínica. O destino eleito foi o interior Norte, a Beira Alta que se cruza com Douro e Trás-os-Montes, Vila de Mêda onde reside um dos meus produtores de eleição no Douro Superior, a Muxagat Vinhos, projecto que ao longo dos anos fui nutrindo especial carinho e atenção, sempre mediante contacto directo com os vinhos produzidos. Ainda hoje me recordo do dia em que abri uma garrafa de Xistos Altos e fiquei “epah, isto é algo diferente do que conheço, e para melhor!”. Desde então criei ligação estreita com os vinhos Muxagat, vinhos de perfil distinto do mainstream da região onde domina a concentração, sobrematuração e estágios excessivos em barrica. O Muxagat Os Xistos Altos continua a ser para mim um dos melhores vinhos brancos a nível nacional, e digo isto passados uns pares de anos desde que o bebi pela primeira vez e possuindo hoje um conhecimento de prova bem mais alargado, quer a nível nacional como internacional. Não sou actualmente consumidor ávido de vinhos durienses porém, existem alguns pequenos produtores e projectos que não abdico de acompanhar, oferecem vinhos criteriosos e apelativos, com frescura e equilíbrio, que não seguem a tipificação monótona regional.
Quem me recebeu na Adega foi a Susana Martins, actual timoneira deste projecto. Estamos perante uma empresa familiar, iniciada pelo seu pai juntamente com outros sócios (entre eles Mateus Nicolau de Almeida e Pedro Garcias), mas que desde 2015 está em exclusivo nas mãos da família. Engenheira civil de formação, agarrou com paixão a herança familiar e expandiu-a para outro nível, confessa que não se via hoje a fazer outra coisa que não fosse a vida agitada entre vinhas e barricas. É trabalho de gosto e sorriso, e esse será sempre o melhor emprego do mundo. Actualmente são cerca de 80 hectares de vinhas espalhadas na periferia. Não vou ser exaustivo quanto aos vinhos, já conhecia muitas das referências, uma visita descomprometida de troca de impressões, já nos conhecíamos do mundo digital e finalmente surgiu oportunidade de visita e privar um pouco pessoalmente. Tive a oportunidade genuína e enriquecedora de provar vários vinhos directamente das cubas e barricas, provar vinhos antes de serem engarrafados, dá-nos uma perspectiva mais realista da dificuldade que é fazer vinho, bom vinho. Abrir garrafas e mandar meia dúzia de bitaites sobre o vinho que se está a beber é fácil e supérfluo, difícil é acompanhar as vinhas um ciclo inteiro, vindimar, vinificar, etc, e no meio disto tudo tomar as decisões que se acreditam ser as mais correctas.




Existem três referências que destaco, algo que já tinha comigo mesmo antes da visita, Os Xistos Altos, como já referi anteriormente, um branco de uva Rabigato, O Cisne, um tinto feito com uva Tinto Cão a que se adiciona uma pequena percentagem de Rabigato para lhe conferir frescura e acidez. É um vinho que posiciono num patamar qualitativo alto, um vinho injustamente sub-valorizado no mercado em comparação com outros vinhos da região do mesmo patamar. Ainda no início do ano abri um Cisne 2010 que estava intocável, sem qualquer evolução oxidativa, sedoso, com uma boca profunda, cheio, fresco, elegante. Por último o Muxagat Tinta Barroca, segmento de entrada de gama, um tinto que aprecio particularmente pelo cunho rústico, terroso, vinoso, genuíno, aquele cheiro a “taberna”.
Para conhecerem melhor os vinhos e o produtor podem visitar a página da Muxagat Vinhos aqui.


Onde comer?
O Mercado
Situado no Mercado Municipal da Mêda, este restaurante que é um misto de enoteca e wine bar ,oferece pratos de carnes locais muito bem confeccionados com toque de requinte e sofisticação. A decoração é original, acolhedora e com gosto, a carta de vinhos muito interessante, focada também numa oferta regional. O staff é muito atencioso e evidencia preparação na explicação dos pratos e vinhos. Uma óptima surpresa na globalidade. Sugiro marcação prévia pois é muito concorrido.
Rua do Mercado
6430-193 Mêda
Onde dormir?
Casas do Côro
Este complexo turístico rural de requinte, localizado na aldeia histórica de Marialva a cerca de 5-10 km da Mêda, conjuga o tradicional e o contemporâneo, perfeito para momentos de paz e glamour, um local idílico e de beleza única no Interior Norte de Portugal.
Marialvamed - Turismo Histórico e Lazer, Lda
Largo do Côro
6430-081 Marialva
Casas do Côro
Largo do Coro 6430-081 Marialva