Nelson Moleiro
Quinta das Marias Crudus 2018

A Quinta das Marias já tem um percurso histórico considerável na região do Dão, tem vindo a dar pequenos passos ao longo das décadas, sucessivos e consistentes. Peter e Elisabeth Eckert pegaram no projecto, com paciência, têm vindo a procurar oferecer vinhos de primeira qualidade e elegância, reflectindo o terroir de excelência da região, o que não acontece assim tantas vezes. No passado recente fizeram uma contratação interessante, com inclusão do projecto do enólogo Luís Lopes, que vinha dando contributo na Quinta da Pellada e com António Madeira. Apesar de ainda não o conhecer pessoalmente, tenho muito apreço pelo Luís Lopes, pelo seu trabalho, pelo carácter e qualidade que transmite aos vinhos. Estamos nitidamente na presença de alguém que traz com ele mundo, aprendizagem externa, que aplica primorosamente nos projectos que dá a cara. Já pela sua mão, nasceu na Quinta das Marias, o Crudus 2018, um vinho experimental com 100% Encruzado, de nuance natural e completamente fora da caixa. Quando me falaram dele, quis obviamente provar, e eis que aqui o tenho.
Deve ser o branco menos "tuga" que conheço, muito semelhante a alguns vinhos biodinâmicos que vou experimentando pela Borgonha, em que o perfil natural é muito ténue, muito bem feito, com as notas de redução presentes muito ligeiras, um excelente trabalho do estágio, com grande matéria de boca, muito fresco e seco. Se diria ser encruzado? Talvez algum vegetal de nariz nos Encruzados mais fechados em novos, mas nunca lá chegaria, era morte certa no palpite, isso é para os craques. Nunca tinha visto um vinho neste registo por cá, o que mais se assemelha é o António Madeira A Liberdade. No dia seguinte ainda me soube melhor, esperava algo bom, mas o Crudus é um grande vinho, disruptivo a nível nacional, rompe com muitas barreiras e abre um caminho que espero que prospere. Quanto ao reconhecimento justo que terá? Duvido um bocado, assim como o enólogo atento e humilde aplica a sua experiência de mundo no que faz, também quem prova necessita de mais experiência de mundo para perceber o que bebe. Muitos consumidores formatados para os vinhos convencionais chapa cinco vão achar "estranho" ou "diferente".
Um grande vinho branco nacional!
"Colheita manual em caixas de 20 kg, desengace e maceração a frio, seguida de prensagem e decantação estática. Fermentação espontânea em barricas de 400 litros originárias de França e Áustria, durante 34 dias. Após a fermentação, manteve-se em estágio sobre as borras finas durante 20 meses, até ser engarrafado. Vinho sem estabilização, sujeito a criar depósito natural."
Castas: Encruzado
Região: Dão
Teor Alcoólico: 13% Vol
PVP: +/- 27€

