Nelson Moleiro
Quinta de Tourais - Lilipop 40 Branco com Lúpulo 2019 e Lilipop 40 Branco 2019
Atualizado: 17 de ago. de 2020

Quando leio o termo “vinho aromatizado” confesso, os meus olhos reviram em slow motion, viro uma fonte inesgotável de memes e gifs. "Oi será que estou a ver bem? Aromatizado com quê?". Lá vejo que se trata de lúpulo, adição de lúpulo na fermentação, tal e qual como acontece no processo de produção de cerveja. O desconhecido, o que não controlamos, causa-nos sempre receio ou insegurança, mas é isso que eu gosto, sair da rotina e da monotonia, da zona de conforto.
Lilipop 40 Branco com Lúpulo 2019
Com o procedimento de introdução de lúpulo na fermentação, julgo que se pretenda, à priori, fomentar algum amargor, mais secura, em conjugação com os compostos aromáticos resultantes da fermentação da uva, talvez umas notas cítricas, nem sei bem, nunca vi algo assim. Se tivesse que apostar diria que já pensaram fazer algo deste género em países de Europa Central onde existe cultura vínica e cervejeira, Alemanha e sobretudo França, produtores alternativos de orange wines, sidras entre outros. O Loire tem muita coisa neste estilo a acontecer, com conceitos de viticultura biodinâmica, vinhos orgânicos e naturais muito solidificados.
O nariz é muito pelicular, muito vegetal, alguma fruta branca de caroço madura, nota-se existência de contacto pelicular a lembrar curtimenta, um orange, a própria cor direcciona-nos nesse sentido, mas revela subtileza e mineralidade, uma sensação herbácea que convida ao beberico para um conhecimento mais profundo. A boca é super ampla, com uma secura e acidez incríveis, e uma sensação acre e de amargor interessantes, sem qualquer percepção de barrica, e logo aqui estamos alinhados, qualquer produtor que não se doutrine em carpintaria é meu amigo.
Se diria que isto é Douro às cegas? Nunca! Se gosto do que bebi? Bastante. É um vinho para desfrutar, super fresco e fora da caixa, que encontrará amores e ódios pela diferença que transmite.
O Lilipop 40 Branco 2019 Lúpulo não tem denominação Douro como seria de esperar, pertence a uma edição especial de vinhos comemorativos dos 40 anos de Liliana Teófilo, homenagem por parte do marido e enólogo Fernando Coelho. É um vinho fermentado com leveduras autóctones, sem adição de sulfitos nem controlo de temperatura durante 6 dias, e com estágio de 6 meses em barrica usada. A grande particularidade é a adição de lúpulo durante a fermentação. Foi engarrafado recorrendo a doses mínimas de sulfuroso tenso sido produzidas 500 garrafas desta experiência.
Castas: Rabigato, Gouveio e Esgana Cão
Região: Douro
Teor Alcoólico: 12,5% Vol
PVP: +/- 18€



Lilipop 40 Branco 2019
Bonita surpresa, ao início algo fechado no nariz, abriu com a oxigenação, o nariz marca-se pela discrição da fruta, algo herbáceo e floral mas ao mesmo tempo mineral e terroso, algumas notas ténues de barrica mas no bom sentido. Em boca uma leveza incrível, fruta com bom estado de maturação, muito seco, acidez equilibrada e envolvência na mucosa, fácil de beber apesar da presença de leve tanino que lhe dá um twist de rusticidade. A barrica está lá mas não se mostra, o álcool muito contido. É um Douro que não conhecia, de estilo antagónico com o "comboio tradicional" que percorre aquelas margens do rio. Vejo aqui uma ousadia positiva, uma identidade e visão próprias nos vinhos que se produzem, um caminho que gostaria de ver ser seguido por outros produtores de forma a reinventar a região.
O Lilipop 40 Branco 2019 será sempre um vinho mais consensual, e sem dúvida o que destaco pela qualidade evidenciada. 50% do lote, com uva viosinho, fermentou em ânfora de barro com maceração de uma semana. Os outros 50%, com rabigato, gouveio e esgana cão (sercial) fermentaram e estagiaram 6 meses em barrica de carvalho francês usada. São primeiríssimas edições da Quinta dos Tourais, experiências que poderão vir a transformar-se em tiros certeiros, Lilipop 40 Branco é algo para acompanhar com atenção no futuro. A Quinta de Tourais ganhou um fiel seguidor, pelos vinhos e ideologias, boas energias parecem fluir dessa quinta duriense, a visitar in loco no futuro.
Castas: Viosinho, Rabigato, Gouveio e Esgana Cão
Região: Douro
Teor Alcoólico: 12,5% Vol
PVP: +/- 25€



A Quinta de Tourais, sediada na zona de Lamego, é um produtor que opta produzir vinhos que gosta efectivamente de beber, e para um nicho enófilo que segue as mesmas tendências, sem olhar para o público de massas como objectivo prioritário. Daí que o seu mercado seja maioritariamente a exportação, normalmente existe maior abertura para a diferença e experimentação além fronteiras.
E os rótulos? Muito diferenciadores não concordam? Giros e inovadores, a transmitir serenidade e espírito descomplexado, da autoria de Lápis Voador.


