Nelson Moleiro
Terra Chama Rosé 2020

Há muito para conhecer no Dão, a região tem tremendo potencial, riqueza específica de terroir e castas autóctones para produzir dos melhores vinhos em Portugal. Contudo, uma região que nunca conseguiu dar o salto para o reconhecimento que lhe é merecido, situação que é resultado de muitos factores, à cabeça a desorganização das entidades que a promovem e falta de solidariedade e diálogo destas mesmas entidades com os produtores, e dos produtores entre si. Vamos lá fora e vemos as grandes regiões vitivinícolas bem articuladas em prol do bem comum. Actualmente olho para o Dão, e tendo como base a minha experiência de prova, como uma região com produtores históricos a fazerem muito bem e fielmente desde sempre, jovens vignerons e produtores a revolucionarem e a elevarem ao nivel da excelência, mas depois também uma anarquia generalizada, mato, casas com décadas de actividade a puxarem a concentração e xaropada para a região procurando imitar o Douro, e novos players a seguirem esse mesmo fio de prumo.
Foi-me dado a conhecer uma novidade, de um novo produtor no coração do Dão, Terra Chama Wines, o Terra Chama Rosé 2020, um rosé de Touriga Nacional. Já tinha provado um dos primeiros vinhos lançados do projecto de Pedro Frutuoso que há cerca de 20 anos iniciou a recuperação de vinhas da Quinta do Buraco em Silgueiros, Terra Chama Branco 2019, um blend de Encruzado e Malvasia-Fina.
Estamos na altura que começam a aparecer os primeiros rosés, fruto da época em que os termómetros sobem. Não tem de ser obrigatoriamente assim, mas assumo que não sou ávido bebedor de rosé, mas no verão solto uma rolhas com alguns pratos, sabe bem, desde que não venha a sensação de salada de fruta docinha, gosto de rosés secos, salinos a fazerem lembrar alguns vinhos brancos.
O Terra Chama Rosé 2020 apresenta-se com cor rosa salmão pálido apelativo, no nariz aroma floral médio, com presença de um bouquet com fruto vermelho, fruto silvestre, com um marcador de frescura no final, a lembrar o campo e bosque. Na boca é muito seco, não pende para a fruta, bom balanço entre acidez e mineralidade de boca, a transmitir sensações inerentes a certos vinhos brancos no final, com salivação na mucosa, gastronómico. Gostei bastante do vinho, apresenta no aspecto menos positivo um preço auspicioso, a rondar os 16€, tendo sido produzidas 640 garrafas. Falo meramente nesse aspecto pois resta saber se o consumidor está disposto a despender dessa ordem de grandeza num vinho rosé, pois ainda é considerado, injusta ou justamente, um vinho "secundário" no panorama vínico. Mas o que não custa hoje em dia esse valor em qualquer outra região?
"As uvas provenientes de vinhas com 21 anos foram vindimadas manualmente. O mosto foi obtido pelo método de bica aberta com de prensagem direta das uvas inteiras e, mais tarde, decantado a baixa temperatura por um período de 24 horas. Fermentou em cuba de inox a uma temperatura de 15ºC durante um período de 18 dias. Estagiou em contacto com borras finas durante 5 meses em cuba de inox. Mínima intervenção."
Castas: Touriga Nacional
Região: Dão
Teor Alcoólico: 12,5% Vol
PVP: +/- 16€


